Quatro pés
Entre as metades do que fora inteiro vejo pedaços.
Já não sei se olho por cima ou se estilhaçado me deito.
O tempo não passa nem para, roda.
E tudo que já vi vejo de novo, rodando.
Pensamentos imóveis, e as
Palavras não são feitas de papel.
A minha casa, que já foi planta, murcha;
A minha alma, que nunca vi, some.
Minha carência me custa caro
E meu dinheiro me vende barato.
Tem como desfazer o trato, feito às pressas,
Mor de construir minha vida de novo,
Com tijolos leves, paredes soltas,
pé-direito triplo e azulejos pintados por artista santo,
santo de tanto, tanto pintar?
As estradas por quais feito Curupira passei
me cobram a volta, pois essa é a lei.
O vinho que em êxtase consumi é o mesmo que me consome,
e para ele sou velho do bom, vintage.
Chorar rindo é melhor que rir chorando,
então choro de trás pra frente, feito aceno de adeus.
Ninguém soprou o vento nem fez da noite o breu.
Pé-de-vento do escuro, quem estava aqui mais eu?